Certo dia, eu viajava num trem no metrô de São Paulo. O trem estava lotado e eu estava sentado na cadeira ao lado da janela, de repente o trem parou de uma maneira que quando eu olhei para a janela eu vi um paredão, nada mais. Me veio à mente o que deve ocorrer com pessoas com transtorno do pânico e com fobias. Eu pensei, se uma pessoa que sofre de pânico estivesse aqui agora e olhasse pela janela, e visse o paredão com trem cheio, de modo que de um lado tem um monte de gente pedindo a saída, e do outro lado uma janela do trem que não abre, um paredão, a pessoa começa a pensar nisso e deixar seus pensamentos de medo tomarem conta da mente dela, pensando que não teria saída, que poderia ter falta de ar para todo mundo, porque o trem estava cheio, que sair dali seria impossível, além de outros pensamentos trágicos, a crise de pânico provavelmente seria desencadeada nesta pessoa. Aquilo que a gente mais pensa, nisso a gente se torna, mesmo que não seja verdade o que os pensamentos estão dizendo. A qualidade do que pensamos influencia no que sentimos.
O que é o Transtorno do Pânico?
A crise de pânico é uma reação repentina, fortíssima de ansiedade e medo. É inesperada e produz sintomas de mal estar físico e emocional, levando a pessoa na hora da crise a sair daquele local e procurar um pronto socorro médico, ou um ambiente no qual sentirá protegida, ou está com alguém com quem acha que se sentirá mais segura. Se você está vivenciando uma situação trágica como por exemplo um tiroteio entre bandidos e policiais, é normal ficar em pânico naquele momento. Mas a pessoa com transtorno de pânico, ela sente o pavor de morrer ou de perder o autocontrole, uma sensação de despersonalização, mesmo quando não existe nada no ambiente que favoreça isso. O diagnóstico de doença do pânico, ou seja, para se saber se uma pessoa tem transtorno do pânico é preciso existir crises repetidas nas últimas semanas ou meses, uma preocupação exagerada de ter novas crises e pelo menos quatro dos seguintes sintomas:
- Taquicardia, que é uma aceleração do coração
- Tremores finos nas extremidades ou no corpo todo
- Sudorese no corpo todo, ou só nas mãos e nos pés
- Uma sensação de que vai desmaiar
- Uma sensação de sufocação ou dificuldade para respirar
- Aperto no peito ou dor no peito, que geralmente é interpretada pela pessoa como ataque cardíaco
- Uma tonteira ou sensação de cabeça vazia
- Medo de morrer
- Medo de enlouquecer e outros sintomas
Cerca de 2% da população sofre desse transtorno. É duas vezes mais comum em mulheres do que homens, e normalmente em torno dos 30 anos de idade mais ou menos. Pode porem acontecer na juventude, na velhice e em outras idades. A causa do transtorno do pânico não é bem esclarecida pela ciência, havendo teorias diferentes. Dentre elas a de que no cérebro ocorrem reações fisiológicas, começando no lugar chamado loco cerúleo, produzindo reações físicas. Esse centro cerebral tem conexão com o nervo vago, que se estende para a região do tórax e do abdômen, daí as sensações de sufocação, aperto no peito, mal estar gástrico, e alguma coisa ativa esse sistema neurofisiológico de forma exagerada, gerando os sintomas da crise de pânico. Parece que quando a pessoa é movida por fobias ou por ansiedade exagerada muito alta, esse nervo chamado vago ou pneumogástrico é ativado e produz essas sensações.
A pessoa pode se concentrar nessas reações corporais como a aceleração do coração, frio na barriga e alimentar pensamentos trágicos: Vou morrer, estou tendo um ataque do coração, e o ciclo se fecha, assim a pessoa pensa tragicamente, aumentando as reações. Assim ela entre no ciclo de medo de morrer, e sintomas cada vez mais fortes. Então acredita-se que no transtorno do pânico as crises podem ser desenvolvidas a partir de um condicionamento mental, que a pessoa vem fazendo com o tempo, interpretando sintomas ou eventos de maneira trágica, catastrófica, imaginária, de modo que desencadeia toda essa reação do pânico, no futuro. Por exemplo um dia a pessoa que tem tendência a ser muito ansiosa ao subir no elevador, sentiu uma forte dor no peito. A partir daí fica associando dor no peito quando ao subir o elevador ou descer, e desenvolve então esse medo de elevador, e pode expandir esse medo para outros lugares fechados.
Uma outra teoria tem que ver com a psicodinâmica, a história da sua vida emocional. Nesta teoria psicodinâmica, os conflitos emocionais da vida infantil e da adolescência que para algumas pessoas foram bem difíceis, em indivíduos mais vulneráveis favorece o surgimento de ansiedade muito alta. Traumas da infância, como abuso verbal, abuso emocional, divórcio dos pais quando a criança é pequena, uma criança muito sensível facilita o aumento da ansiedade, a qual pode se manifestar pela crise de pânico anos mais tarde. A crise de pânico é como um transbordamento da ansiedade. Esse transbordamento pode ocorrer, porque a pessoa está estressada, reprime sentimentos que precisariam ser verbalizadas, ou porque ela se condicionou a fazer uma interpretação trágica dos eventos, e isso pode ser modificado. Você pode aprender a pensar, sentir e agir de maneira mais saudável.
Tratamento do Síndrome do Pânico
O excesso de ansiedade que desencadeie uma crise de pânico pode diminuir ou não, mas a pessoa pode desenvolver atitudes sadias em defesa própria. Isso significa, que ela pode aprender a descansar, a relaxar, ao invés de ser sempre atarefada, pode aprender a relaxar mesmo a colocar limites, também a dizer não para as pessoas. Muitas pessoas maltratam a si mesmas, se desvalorizando, não se protegem de abusos, sofrem ansiedade muito alta, que pode vir a ser manifestada por exemplo na crise de pânico. Ansiedade alta e ansiedade exagerada pode ser a luz vermelha ou alarme, dizendo para pessoa: “Hey, você precisa parar de tratar mal a si mesmo, e começar a respeitar a sua pessoa.” O tratamento do transtorno do pânico envolve algumas coisas:
- Medicação temporária, para aquelas pessoas que estão tendo uma ansiedade excessiva, que está atrapalhando seu trabalho e sua vida social
- A psicoterapia
- Cuidados físicos
- Orientação familiar, para que os parentes entendam, o que é esse sofrimento
A medicação se for necessária, deve ser prescrita por um médico psiquiatra, que fará a psicoterapia também, se ele for treinado para isso, ou encaminhará a pessoa para o psicólogo clínico. Psicoterapia é o uso de técnicas psicológicas que visam o aumento do autoconhecimento, e o aprendizado como lidar com as suas emoções, assim como aprender a checar o conteúdo dos pensamentos e procurar entender se esses pensamentos são habitualmente negativos, são distorcidos, se são cheios de preconceitos e substituí-los por pensamentos positivos, de esperança, de aceitação, de autoproteção, de perdão por si mesmo e por outras pessoas. A psicoterapia ou terapia psicológica, também auxilia a pessoa a falar e experimentar sentimentos reprimidos que causam uma tensão mental. Ajuda a fazer conexões entre o sofrimento atual que a pessoa apresenta e problemas lá atrás devido ao passado na família de origem.
Quando a pessoa vai compreendendo gradativamente a história de sua vida, nos relacionamentos familiares que favoreceram a ansiedade alta exagerada, ela tem mais chance de aprender a lidar de forma melhor com seus medos, ansiedades e tristezas, e passo a passo ela pode aprender a modificar sua maneira de lidar com o sofrimento. A terapia psicológica, o aconselhamento com pessoas de experiência, a leitura de livros adequados, à participação em grupos de apoio por exemplo, a reflexão visando o autoconhecimento, parar para pensar, são meios de entender melhor quem é você, e assim facilitar o controle emocional.
Dentre os cuidados físicos que contribuam para a melhora do transtorno do pânico eu posso citar: primeiro repouso, depois alimentação mais natural possível, a prática de atividades físicas ao ar livre de preferência como caminhadas por exemplo, cultivar uma horta no jardim isso é extrema e terapêutico para a mente humana, a respiração apropriada. Respirar com calma e profundamente, inspirando e expirando lentamente, pensando na respiração ajuda. Fazendo isso ajuda a evitar a crise aparecer ou se desenvolver.
Tipos de Ansiedade
Crises de pânico ou transtorno do pânico é um sofrimento ligado ao excesso de ansiedade na mente da pessoa é como uma caixa d’água que tem um problema na boia, que não fecha a entrada de água, e o ladrão, que joga para fora, está entupido, então transborda água pelas laterais da caixa. Ansiedade todo mundo tem, mas não ansiedade alta. A crise de pânico é quando a ansiedade excessiva transborda na mente da pessoa, gerando sintomas desagradáveis.
Existe a ansiedade traço e ansiedade estado. Ansiedade estado é quando a pessoa apresenta ansiedade alta temporariamente. Pode ser no período de exames escolares por exemplo, nos preparos para um casamento, nos dias que antecede uma entrevista para tentar uma vaga de emprego e outras situações. Então ansiedade estado a pessoa tem uma ansiedade normal, temporariamente ela fica mais alta diante desses eventos, e depois volta a seu nível normal. Agora a ansiedade traço é como o nome diz um traço, a pessoa já apresenta ansiedade mais alto do que a média, mais alto talvez do que os irmãos da mesma família, mesmo sendo filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Então uma criança com ansiedade traço, ela pode ser mais sensível, mais vulnerável para esses sofrimentos mentais.
Um Exemplo
Uma mulher jovem adulta vem apresentando crises de pânico e procurou tratamento, e os pontos trabalhados com ela no tratamento psicoterápico são os seguintes: Primeiro ela tenha aprendido a pensar, que tipo de coisa acumula tensão e estresse na vida que acaba aumentando demais a ansiedade. Ela era preocupada demais, ela vivia com suas preocupações, que eram exageradas, e ela começou a perceber isso. Está preocupada demais era uma tendência antiga na vida dela. Era o modo crônico de viver tensa. Excesso de preocupação aumenta a ansiedade, e a ansiedade aumentada pode provocar crises de pânico. Ela foi aprendendo a refletir se precisava mesmo ficar tão preocupada com coisas demais, começou a questionar a si mesmo no sentido de entender se preocupação muda alguma coisa para melhor, se a preocupação modifica a realidade. Ela começou a pensar nessas coisas, começou a questionar a sua própria mente ansiosa demais, ou seja, ela conseguiu começar a separar ela da ansiedade que ela experimenta. Ela começou a pensar no que ela estava pensando, esse é um exercício que a pessoa tem que fazer, que se chama de autoanálise ou auto-observação. Então ela está aprendendo a viver um dia de cada vez uma hora de cada vez, também a aceitar, aprendendo a aceitar a impotência para mudar a realidade.
Outra coisa que está ajudando muito essa mulher é falar com algum familiar ou amigo compreensivo sobre seus medos, para desabafar. Alguém que entenda o problema, que seja simpático, que não seja a pessoa crítica e que seja a pessoa também ética, porque desabafar alivia a ansiedade. Esta moça com crise de pânico ela entendeu que a crise de pânico não vai além de dez minutos. Ela está aprendendo a relembrar a si mesma, que os sintomas físicos que ela apresenta, além da dor da crise, não são manifestações graves de problemas de saúde, como por exemplo que ela vai infartar, ou que vai ter um derrame, ou que vai desmaiar ou que vai sair da realidade, então está aprendendo de que isso não é uma doença física que ela realmente apresenta, porque ela já se submeteu a exames clínicos e laboratoriais com os resultados a afastar a existência de uma doença física. Então se você tem crises de pânico e ainda não fez exames, não passou no médico, não fez uma consulta com um cardiologista e um clínico geral, será importante você fazer procurando um dos especialistas, para poder verificar o que está acontecendo no seu corpo. Se você então após exames e verificar que não tem alteração médico, isso vai te ajudar na próxima vez para que você não fique com medo que vai morrer do coração, porque você vai lembrar: Eu já fiz exame e o médico falou que eu não tenho lesão cardíaca.
Então ela tem aprendido que o medo na crise de pânico é desproporcional à realidade. O medo diz que na crise ela vai morrer do ataque do coração, ou que vai perder o juízo, ou uma coisa que não é real, então ela tem treinado dar um passo para trás na mente e olhar a taquicardia, olhar a respiração ofegante, observar isso e pensar que a ansiedade forte que está produzindo isso, e não uma real falência física do coração ou dos pulmões ou do cérebro. Então no momento que a crise parece vir, ela agora consegue relembrar isso para ela mesma, assim ela luta para mudar o foco da atenção, tirando essa atenção dos sinais do seu corpo e observando objetos ao redor por exemplo, ou fazendo um esforço racional para pensar em outra coisa, ou vai arrumar seu armário, vai telefonar para um amigo, ela muda o foco da concentração do pensamento. Também ela tenta relembrar aquilo que o cardiologista disse recentemente, de que não existe uma doença física, que o eletrocardiograma estava normal, que a ergometria ou eletrocardiograma de esforço estavam normais, assim como os exames que ela fez.
Ela agora entende que mesmo quando o familiar com quem ela vive e que não tem crises de pânico acha que o que ela sofre é bobagem, ela não precisa se sentir inferior por ter essas crises. Ela agora aceita que não é de menos valor por causa das crises que têm.
Ela tem aprendido abrir mão das tendências ou tentativas de controlar a vida, de querer exercer controle sobre a vida e sobre o comportamento das outras pessoas, que é uma coisa muito estressante. Está descobrindo que queria controlar o incontrolável, e que isso aumentava a ansiedade, estressava e contribuía para a crise de pânico. Agora ela já consegue falar sobre as coisas que incomodam, sem reprimi-la sempre, como se fosse proibido comentá-las. Talvez a dificuldade de falar, para desabafar esteja na pessoa que tem pânico, e não por causa da falta de vontade dos outros em escutar.
Ela também já consegue colocar limites e se proteger do excesso de assumir responsabilidades ou tarefas. Ela consegue melhor se proteger de pessoas abusivas, ela reconhece melhor que existem pessoas sem desconfiômetro, que abusam da boa vontade dos outros, e que a pessoa que tem pânico ao não se proteger em dizendo não posso, não quero, não vai dar dessa vez, quando isso é correto, ela acumula estresse que pode desencadear a crise. Ela agora pede coisas, ela pede ajuda, ela delega tarefas, ela não fica assumindo tudo na vida dela, não se compromete com que lhe dão para fazer com prazos curtos demais para cumprir, porque ela fala isso não vai dar, eu não posso assumir isso aí, ou seja ela se respeita melhor, ela está diminuindo uma postura de onipotência que ela tinha, que pode tudo, faz tudo, resolve tudo.
Ela está aprendendo que ao ter tido as crises de pânico, ela havia ficado com muito medo de ter de novo, mas agora consegue lembrar a si mesma, que ela não é a sua ansiedade, não é o seu medo, ela é maior do que isso, aprendeu que o medo é algo nela, mas não é ela. Agora, ela pode começar a encarar a ansiedade excessiva, não mais como algo que dominará a mente dela.
Controle dos Pensamentos
A pessoa portadora de transtorno do pânico precisa treinar na sua mente o autocontrole das preocupações exageradas. Como assim? Quando vier uma preocupação, que se não for dominada vai criar muita ansiedade e poderá desencadear nova crise de pânico, ela deve dizer para si mesma: “E puxa, olha só, eu estou muito ansiosa agora.” Ela começa a observar a sua própria ansiedade, aí diz para ela mesma: “Já vem isso em perturbar de novo, mas agora já sei que eu não tenho problema do coração, esse pensamento que diz que eu vou morrer do coração, já foi no cardiologista, eu fiz exames, está tudo normal. Por isso não vou precisar é não preciso mais deixar é que as ideias de morte por ataque do coração tomem conta da minha mente. Agora entendo que não vou sair da realidade, não vou surtar, não vou ficar louca.”
Então quando a pessoa que teve crises de pânico desenvolve esse tipo de raciocínio, na hora que surja uma ameaça de nova crise, isso significa que ela está começando a controlar os seus pensamentos trágicos, e por isso a crise poderá ser evitada. Porque os pensamentos perturbadores precisam ser controlados, e isso se faz usando a razão. Usando a lógica, usando a informação que você já tem, de que não tem doença cardíaca, de que a crise do pânico é passageira, é rápida que não leva uma loucura. A verdade pode libertar e curar. Então para melhorar qualquer sofrimento mental que envolva maneira errônea de pensar é importante compreender o que essa escritora escreveu:
Os pensamentos precisam ser educados… Os pensamentos precisam ser controlados… Pensamentos corretos … não nos vêm naturalmente. Temos de lutar por eles.
Ellen G. White. Mente, Caráter e Personalidade, Vol. 2 pag. 656
Então você treina substituir pensamentos trágicos por pensamentos saudáveis. Pode não ser fácil inicialmente, é verdade, mas com treino vai ficar menos difícil. Poderá não ser possível evitar que o pensamento de medo ou trágico surjo na mente, porque quando você vê já está ali na sua cabeça, mas é possível de evitar que ele continue na mente a perturbar você. Então a prática de decidir parar de pensar no negativo ou no trágico, vai fortalecer a mente da pessoa com pânico para que esses pensamentos desagradáveis se tornem menos perturbadores e menos frequentes, porque ao fazer isso, ela está aprendendo a cultivar pensamentos saudáveis que não geram ansiedade excessiva. Quero deixar um texto para você que sofre de crises de pânico:
Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.
Filipenses 4:8
É interessante que essa passagem há versões na bíblia que falam: é seja isso que ocupa o vosso pensamento. Então o conteúdo do pensamento é aquilo que fica rodando na sua consciência. Você pode treinar a interromper os trágicos e cultivar os positivos. Desejando você serenidade e uma clara mente.
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
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